Bem-vindo a Vinga - um oásis maresia no mar Kattegatt, Suécia
Foto: Gill Widell


Tenho visto a fúria do mar, as ondas enormes que deixam uma espuma no segundo em que elas quebram nas rochas. Outros dias, tenho visto o mar sem ondulações. Nesses dias, os navios na entrada para Gotemburgo e os raios do sol espelham-se no mar azul profundo. É como se um navio fosse uma armada, e como se uma boia se tornasse um grupo de sinais que mostra o curso para o porto. Tenho visto isso do farol Vinga no arquipélago de Gotemburgo, a oeste da Suécia.

Estou na proa do barco turístico que está navegando em direção oeste no rio Göta Älv. Meia hora mais cedo, o barco deixou o píer no centro de Gotemburgo. Em breve, estaremos na posição onde o mar doce vai confundir-se com o mar salgado. Estamos no fim do rio, no estuário para o mar, como se fosse uma boca aberta que diz: "Obrigado pela visita", ou, vista do outro lado: "Bem-vindo a Gotemburgo". Vejo a silhueta do farol Vinga no horizonte. A bombordo do barco turístico - à esquerda -, está a ilha Brännö. As suas pedras de granito são cobertas com urze em lilás que chama a atenção. A estibordo – à direita-, vejo a silhueta da igreja na ilha Hönö e as balsas amarelas, com carros e ônibus, os quais estão a cruzar entre as ilhas no arquipélago norte de Gotemburgo. A maresia acaricia as minhas bochechas, alguns pingos do mar batem a minha pele. Adoro. Depois de uma hora e pouco, o barco está aproximando-se do pequeno porto na ilha Vinga. Finalmente, ele aporta no píer e eu desembarco. Estou pronto para fazer um passeio nas trilhas no ponto ao oeste da Suécia. Vou relembrar a história da ilha, estudar as marcas marítimas, imaginar a vida dos faroleiros 200 anos atrás e, também, apreciar flores raras e estudar a vida zoológica. Venha comigo!



O nome Vinga é associado a uma ilha, a um farol e a um ponto de interesse para turistas e cidadãos de Gotemburgo. Também, por ter sido um lugar Prático de Navios.

Antes da minha visita à ilha, vi na carta náutica que Vinga é a fronteira mais externa para o mundo, ou seja, o fim do arquipélago de Gotemburgo e o início do poderoso Mar do Norte situado entre Inglaterra e Suécia. A ilha está localizada a cerca de 10 milhas náuticas (ap. 18 quilômetros) do centro da cidade de Gotemburgo. Na carta náutica a posição é: 16.39302 N e 19.40895 W. O comprimento parece ser de 1 000 metros na direção oeste-leste e de 500 metros de largura na direção norte-sul. De cima, a ilha tem a forma de um "U" com duas baias, Midsommarviken (Baia solstício de verão) no leste e Gattulvsviken do lado oeste. Elas quase cortam a ilha em duas. Na verdade, no século XVIII, havia duas ilhas com um estreito entre elas em que era possível navegar. Sorrio comigo mesmo, elas eram como se fossem um casal. E assim como entre as duas ilhas, poderia haver um espaço entre as duas pessoas de um casal. Estou no pequeno porto no sul da ilha. Olho para o sul antes de começar o meu passeio. Vejo, do outro lado do estreito, a ilhota Koholmen (Ilha de vaca). Lá, as ovelhas pastam e os pássaros circulam em cima de seus ninhos. O estado sueco é o proprietário de Vinga desde 1934. A ilha e as ilhotas ao redor são uma reserva natural desde 1987.



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Saio do porto e sigo a trilha para uma marca marítima que se chama Båken,. Lá, no primeiro andar, funciona hoje em dia o museu de Vinga. Entro.

Aqui, eu leio sobre a história da ilha e sobre a sua importância, que está documentada desde o século XVl. Naquela época, existiam somente sinalizações simples para ajudar os navios a navegar quando se aproximavam do porto de Gotemburgo. No ano de 1606, a primeira estrutura marítima permanente foi construída. Era um farol de madeira. Vejo uma imagem em que os faroleiros içam um balde com fogo para mostrar onde as rochas e ilhas perigosas estão. Os dinamarqueses queimaram essa estrutura, e um novo farol foi erigido em 1675. Cinquenta anos mais tarde, este foi substituído por um novo, também de madeira, com a forma de uma pirâmide, acompanhado de uma torre de controle para os práticos de navios. A marca foi destruída por um raio em 1856.

No ano seguinte, a marca marítima Båken foi edificada. Ela é de madeira do norte da Suécia e foi pintada com Falu rödfärg (pintura vermelha de pó de ferro). No topo da construção, há um cetro com um globo em cobre. Penso que esse globo está olhando para o mundo, para o lugar onde o mundo se abre. As dimensões são de 11 x 11 metros na base e ela tem uma altura de 24 metros. Båken tem resistido a todos os furacões, às trovadas e às ondas poderosas. A marca ainda pode ser encontrada em Vinga.

Na base de Båken, há, além do museu, um espaço que tem um ar romântico como se

houvesse uma fragância de amor. Aqui, são feitas cerimônias de casamento. Para o casal, deve ser uma memória para toda a vida: andar de barco juntos, aproximar-se do oásis no mar, ajudar um ao outro a desembarcar, seguir a trilha para Båken cercados de flores cheirosas e borboletas cantando e, finalmente, ser unidos como um casal.

Então, nos verões, Båken atualmente é usada como museu e como local para casamentos. Essas atividades são administradas pela Winga Vänner (Os amigos de Vinga).



O primeiro farol de pedra, com uma forma cilíndrica, foi inaugurado no meio de século XVIII. A altura era de quatro metros, mas havia um problema: a luz do farol dificultava a navegação dos navios, pois tinha um brilho branco com a mesma frequência que os faróis Nidingen, na Suécia, e Skagen, na Dinamarca. Por isso, um novo farol foi construído, com uma outra frequência, ao lado do antigo, em 1854. Este era de tijolo e tinha uma altura de seis metros. Vejo a minha frente que o que resta do segundo farol é somente o alicerce.



O número de navios que aportaram no porto de Gotemburgo aumentou. Por isso, os dois primeiros faróis de Vinga foram apagados. Foi em 1890 que o farol que hoje é visto em Vinga ficou pronto. Inicialmente, a sua luz era alimentada a óleo, mas em 1950 foi substituída por luz elétrica e mais tarde automatizada. Para ajudar os navios, nos dias quando a visibilidade era ruim, o sinal sonoro de nevoeiro rugia. Como um complemento ao farol de Vinga, houve, entre os anos de 1929 e 1965, uma "barca farol" que foi substituída, em 1965, pelo farol Trubaduren (o Trovador), que por sua vez está cravado no fundo do mar.
Fatos técnicos do farol de Vinga

Coordenadas do farol:

57°37,92'N; 11°36,08'E

Construído com pedra retirada da ilha. A fachada revestida de pórfiro



Altura da torre: 29 metros

Altitude: 46 metros

Alcance luminoso: 25,5 milhas náuticas, (ap. 45 km)

Luz característica: branca, Fl(2) 30 s, dois brilhos intensos cada 30 segundos

Óptico: de primeira ordem (1840 Ø) lente plana dióptrico. Lâmpada 2000 W

O farol no meio, Båken a esquerda. Foto: Gill Widell

Båken e o farol são patrimônio cultural.


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Para cuidar e fazer a manutenção das marcas marítimas e dos faróis, assim como ajudar os navios a aportar no porto de Gotemburgo, era necessário ter pessoal permanente na ilha. Por isso, decidiu-se construir casas. A primeira habitação foi edificada em 1646, para o único habitante da ilha, o faroleiro Torkel Smed. Depois de alguns anos, a casa foi seguida por mais moradias de madeira, também pintadas em Falu Rödfärg e com telhados revestidos de ardósia. Nessa pequena aldeia, viveram os faroleiros com as suas famílias. Eram, ao todo, cinco famílias com dez filhos, e eles tinham a sua própria escola. O último faroleiro deixou a ilha em 1976. As estruturas encontradas na ilha de Vinga foram declaradas como estruturas históricas nacionais em 1978.



Os primeiros práticos de navios de Gotemburgo moraram na ilha de Brännö. Desde a segunda metade do século XVII, eles estavam na Vinga para vigiar os barcos que se aproximavam ou saíam Gotemburgo. Cem anos depois, a primeira casa para os práticos de navios foi construída em Vinga e o lugar de trabalho deles passou a ser lá permanentemente. No ano de 1997, quando navegação por satélite tornou-se comum, a torre de controle foi fechada.

Ninguém mora mais em Vinga, mas alguns práticos de navio, alguns barqueiros da Administração Marítima Sueca e alguns técnicos que cuidam da operação do farol ainda utilizam o porto. A Västkuststiftelsen (Fundação da Costa Oeste) administra a reserva natural e garante que ela seja mantida limpa. Às vezes, a marinha faz o seu treinamento no mar, em águas profundas e nas rochas da ilha.



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Não só as pessoas apreciam a natureza em Vinga, mas também a vida botânica e zoológica.

O leito rochoso em Vinga é principalmente composto de pórfiro que se formou cerca de 950 milhões de anos atrás. Eu acaricio a superfície da pedra, que tem sido lixada pelo mar há milhares anos, com os seus brilhantes de feldspato na rocha escura, quase preta, que lançam seus raios de luz em mim.
Cauda da Andorinha, Foto: Gill Widell
O alicerce de Vinga é nutritivo e cria boas condições para plantas específicas. Apesar de ser uma ilha tão pequena, Vinga tem uma flora magnífica. Tudo cresce na ilha, desde as espécies nativas até as plantas e sementes que os residentes, durante séculos, trouxeram consigo voluntariamente para cultivar. Algumas delas chegaram e vingaram por coincidência. Em Vinga, podemos encontrar plantas como a Strätta (Angelica sylvatica) , o lar da borboleta Cauda da Andorinha, Strandkvanne (Angelica archangelica), Axveronica (Veronica Spicata), Fackelblomster (Lythrum salicaria) e varias outras plantas.


Em maio e junho, pode-se ouvir o Göken (o cuco) e o Näktergalen (o rouxinol) espalharem as suas lindas canções como se quisessem atrair visitantes para a ilha. Vinga, bem como a ilhota Koholmen, têm uma grande variedade de pássaros. Por isso, em épocas específicas, como, por exemplo, quando as aves já voltaram para Suécia depois de passar o inverno no sul da Europa, os ornitólogos e os seus binóculos são vistos rastejando nas rochas para observar aves raras. Koholmen é uma reserva para pássaros, o que significa que não é permitido ir lá enquanto os pássaros estão nidificando. Durante o inverno, várias aves aquáticas costumam permanecer nas águas ao redor de Vinga porque raramente o mar fica coberto de gelo.

Embaixo d'água que circunda Vinga, há uma variedade grande de vida marítima. Equipe-se com um olho de ciclope e observe os caranguejos que avançam para frente com ajuda das suas garras; os peixes que serão o nosso jantar à noite; as estrelas-do-mar penduradas nas pedras; os mexilhões que estão limpando a água; e, com sorte, um tubarão cinza caçando. Na superfície do mar, os cisnes estão flutuando orgulhosamente, as gaivotas nadam enquanto esperam para pegar um peixinho para o almoço e, talvez você possa ver um cardume de focas aparecer no mar a sua frente.



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O marinheiro, poeta, artista, trovador e tocador de alaúde Evert Taube (1890 – 1976) nasceu em Gotemburgo, mas cresceu na ilha. O pai dele era capitão do mar e faroleiro em Vinga. Nos poemas e na música, Taube descreve sua infância como feliz e cheia de histórias sobre países estrangeiros e de encontros com pessoas que levam a vida no mar. A contribuição de Evert Taube, para os suecos e para a musica sueca, faz com que ele seja considerado um dos maiores poetas nacionais. Sua produção rica inclui prosa, bem como desenhos, aquarela e pinturas a óleo, mas é por seus poemas e por sua música que ele é mais conhecido. Sua prosa inclui livros de viagens e romances. Vários deles contam sobre a sua vida como marinheiro e as suas viagens. A sua música canta sobre os ventos de monção, sobre a vida no Pampa na Argentina e sobre os momentos em que dançou tango com "la señorita".

Vinga é também encontrada em letras de Lasse Dahlquist (1910 – 1979), que era compositor e cantor, e de Håkan Hellström (1974 -), compositor e cantor de música moderna que tem composto e escrito letras em várias canções nas quais Vinga é mencionada.



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Winga Vänner (Os amigos de Vinga) é uma organização sem fins lucrativos. O objetivo principal é preservar o patrimônio de Vinga. Os seus membros, como anfitriões, organizam a aporta para o poro, limpam as casas e, no verão, administram o café e o quiosque. Também, as visitas guiadas e o museu de Vinga são operados pelos membros da Winga Vänner.



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Em breve, vou acabar a minha caminhada e a minha visita à Vinga. Embora tenha sido um dia lindo e interessante, eu não me uni às pessoas que nadaram. A água no mar estava a 18 graus, uma temperatura normal durante o verão. Achei friozinho! Também não falei com as tripulações nas lanchas nem nos barcos à vela no porto. Mas, no barco turístico, tomei um café e vi o começo de por-de-sol quando entramos na boca do rio Göta Älv para Gotemburgo.